Idosos e Natureza: os benefícios deste contato

Por Giulia Catissi

O tema “Envelhecimento Saudável” nunca esteve tão em alta quanto nos dias atuais! A Organização Mundial da Saúde define o período de 2020-2030 como a “Década do Envelhecimento Saudável”. Para além disso, nos últimos anos, é evidente a inversão da pirâmide etária brasileira, também chamada de transição demográfica, caracterizada pelo aumento significativo da população idosa e da expectativa de vida no país.

Essa transição demográfica é decorrente de diferentes mudanças demográficas e epidemiológicas ao longo do tempo, seja pela diminuição da taxa de natalidade, redução da mortalidade infantil e dos índices de pobreza, avanços nas áreas da saúde e tecnologia e pela redução da incidência de doenças infecciosas e parasitárias.

Contudo, por mais que as pessoas estejam realmente vivendo mais, longevidade não necessariamente é acompanhada de qualidade de vida e bem-estar, ou seja, tópicos prioritários para um envelhecimento saudável. Tais mudanças demográficas e epidemiológicas, combinadas com o processo de urbanização, globalização e mudanças de estilos de vida, acarretam em aumento nos índices de doenças crônicas-degenerativas, sendo uma condição alarmante de saúde pública em contextos mundiais, sobretudo em países emergentes como o Brasil.

Alarmante no sentido de despreparo do sistema de saúde para esse novo perfil de saúde da população, uma vez que o padrão de doenças prevalentes deixa de ser agudo e passa a ser crônico com suas repercussões envolvidas: complicações, invalidez e perda de autonomia que implicam em décadas de utilização da assistência e financiamento dos serviços de saúde.

Dado o contexto acima, como podemos planejar e adotar um envelhecimento saudável? Ao contrário do que é difundido, o envelhecimento saudável não é somente a ausência de doenças, e sim multifatorial, englobando manutenção da promoção de saúde, preservação da capacidade funcional e continuidade do convívio social, que promovem, entre outros aspectos, bem-estar e qualidade de vida.

O envelhecimento saudável depende de aspectos e determinantes de saúde como hábitos de vida, questões ambientais, sociais, de moradia, infraestrutura, condições socioeconômicas, entre outros. Ele permite que o indivíduo, como autor chave de seu próprio cuidado, perceba o potencial para o seu bem-estar físico, mental, social e espiritual ao longo de sua vida. Por isso desejar e adotar um envelhecimento saudável para si e aos outros ao seu redor é tão importante!

A prática periódica de atividade física, alimentação balanceada, sono regular, exercício pleno da autonomia, realização de exames preventivos, além da preservação da saúde emocional e redução do estresse, são fatores que contribuem para o envelhecimento saudável, de acordo com literatura científica. Intervenções baseadas na natureza também fazem parte desse cenário amplo de cuidado em saúde e podem contribuir tanto na prevenção de doenças como no manejo de doenças crônicas já existentes.

Porém, o desafio da manutenção do contato com a natureza também existe nas maiores faixas etárias. Como estar (de verdade) com a natureza se o processo de urbanização e globalização distancia cada vez mais os humanos de ambientes naturais, principalmente em contexto de pandemia?

É agora que vem a boa notícia! Seja o contato com a natureza realizado de forma direta –  por meio de passeios em parques ou praças, prática de exercício físico em ambientes naturais ou tomando um banho de cachoeira – ou seja de forma indireta – apreciando uma fotografia de natureza, tendo contato com plantas e animais domésticos ou ouvindo sons da natureza pelo celular, os benefícios psicológicos e físicos são reais!

Estudos apontam que nos idosos a conexão com a natureza promove redução de inflamação, redução de estresse, ansiedade e depressão e melhora da hipertensão. Porém, como dito anteriormente, esses benefícios são comprovados para a população idosa, porém com comorbidades já instaladas como doenças pulmonares e cardíacas. 

Pesquisas investigando idosos e natureza com enfoque em promoção de saúde e prevenção de doenças são incipientes em literatura nacional e completamente necessárias, como forma de incentivo à população para a preconização do envelhecimento saudável, bem como a criação e implementação de políticas públicas relacionadas.

Esperamos suprir essa lacuna na literatura brevemente! Mas enquanto isso, o que podemos fazer enquanto indivíduos e futuros ou presentes idosos da sociedade? Bora se conectar com a natureza – seja de forma indireta ou direta – para assim aproveitar alguns dos vários benefícios que ela nos traz!

Referências:

Jia BB, Yang ZX, Mao GX, Lyu YD, Wen XL, Xu WH, et al. Health Effect of Forest Bathing Trip on Elderly Patients with Chronic Obstructive Pulmonary Disease. Biomed Environ Sci. 2016 Mar;29(3):212-8. Disponível em:https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27109132/

 Mao GX, Cao YB, Lan XG, He LZH, Chen ZM, Wang YZ, et al. Therapeutic effect of forest bathing on human hypertension in the elderly. J Cardiol. 2012;60(6):495-502. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22948092/

 Oh B, Lee KJ, Zaslawski C, Yeung A, Rosenthal D, Larkey L, Back M. Health and well-being benefits of spending time in forests: systematic review. Environ Health Prev Med. 2017;22(1):71. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29165173/