Quanto tempo você precisa ficar na natureza para melhorar sua saúde?

Por Lis Leão

Muitos estudos científicos têm abordado os benefícios para a saúde resultantes do contato e ou de conexão com a natureza. Dentre os benefícios que abordamos em um artigo anterior se destacam, principalmente, os relacionados à promoção de saúde mental. Destacamos as palavras contato e conexão, porque são formas diferentes de nos relacionarmos com a natureza.


O contato pressupõe você estar na natureza por algum motivo que nem precisa estar ligado diretamente a ela, por exemplo, quando você vai a um parque para fazer alguma atividade física, mas pode estar usando fones de ouvido, pensando em outras coisas – é um estar na natureza.

Já a conexão, pressupõe uma relação mais profunda com a natureza. Você vai para a natureza para estar com ela, ou seja, a natureza é a principal razão para que você passe um tempo em sua companhia.


Bom, mas de quanto tempo estamos falando, quando buscamos os benefícios que a literatura sobre este tema?

Pesquisadores da Universidade de Exeter, conduziram uma pesquisa com quase vinte mil pessoas que visitam parques na Inglaterra e chegaram à conclusão que a permanência de 120-179 minutos na natureza por semana (em relação a quem não teve nada de contato) é o tempo necessário para observar melhores resultados.

Os pesquisadores perguntaram para as pessoas, quantos minutos, em média, elas tinham passado em ambientes naturais nos últimos sete dias e avaliaram o impacto desse tempo na natureza sobre como eles percebiam sua saúde e seu bem-estar. Concluíram que os indivíduos que passaram entre 1 e 119 minutos na natureza na última semana não eram mais propensos a relatar boa saúde ou elevado bem-estar do que aqueles que relataram 0 minutos, ou seja, tempo algum. No entanto, os indivíduos que relataram passar tempo igual ou superior a 120 minutos na natureza na semana anterior à pesquisa, tiveram níveis consistentemente mais altos de saúde e bem-estar do que aqueles que relataram não terem estado em ambientes naturais. 

Segundo esses pesquisadores, um tempo inferior aos 120 minutos, portanto, parecem ser insuficientes para produzir benefícios significativos para a saúde e bem-estar, mas por outro lado, um tempo de exposição à natureza superior a 300 minutos também não demonstrou benefícios adicionais. 

Este estudo tem algumas limitações, pois não se sabe exatamente se esse tempo de exposição está ligado à prática de exercícios físicos na natureza, que é a principal razão pela qual os ingleses visitam os parques, nos quais a pesquisa foi conduzida. Esse comportamento fala mais a favor do contato com a natureza do que a conexão, que poderia apresentar outros resultados. Esse tempo também pode estar mais atrelado ao hábito das pessoas que frequentam os parques e outros estudos ainda precisam ser desenvolvidos.

Em virtude disso, não se trata de uma recomendação específica, mas de apenas de um parâmetro que pode ser utilizado até que novas evidências surjam sobre essa questão. Até isso acontecer, esses 120 minutos parecem alterar a percepção das pessoas sobre sua própria saúde e bem-estar, sendo que eles não precisam ser desfrutados junto à natureza de uma única vez na semana. Esse tempo também pode ser fracionado nos dias da semana de acordo com a preferência individual.

É claro que discutir um artigo é trazer um ponto de vista e por isso é importante lembrar que isso não esgota o assunto e que existem outras maneiras de olhar e explicar fenômenos para os quais a ciência ainda não tem todas as respostas.

O efeito da experiência estética junto a um cenário bonito acontece em poucos minutos, com consequente alterações cerebrais importantes que desencadeiam na produção de neurotransmissores que geram bem-estar. Por isso, talvez, o mais importante não seja o tempo, mas a qualidade do momento com a natureza e a conexão que a pessoa estabelece com ela. Alguns pesquisadores observaram que pessoas solicitadas a “explorar seu senso de admiração” em uma caminhada de 15 minutos na natureza encontraram maior admiração, alegria, emoções pró-sociais e positivas do que aqueles que apenas caminharam na natureza. Novamente, isso parece reforçar a ideia de que estar com e não simplesmente na natureza pode ter papel fundamental em nossa experiência e nos nossos níveis de bem-estar.

Referências:

Sturm, V. E., Datta, S., Roy, A. R. K., Sible, I. J., Kosik, E. L., Veziris, C. R., Chow, T. E., Morris, N. A., Neuhaus, J., Kramer, J. H., Miller, B. L., Holley, S. R., & Keltner, D. (2020). Big smile, small self: Awe walks promote prosocial positive emotions in older adults. Emotion. Advance online publication. https://doi.org/10.1037/emo0000876

White, M.P., Alcock, I., Grellier, J. et al. Spending at least 120 minutes a week in nature is associated with good health and wellbeing. Sci Rep, 7730 (2019). https://doi.org/10.1038/s41598-019-44097-3