Natureza e Música

A forma como vivemos se reflete na cultura de uma localidade, de um povo e de um país. Pesquisadores tem observado que há um declínio na conexão do homem com a natureza com consequente redução da presença da natureza na produção cultural na Inglaterra. Um afastamento cultural da natureza com opções internas e virtuais de entretenimento tem ocorrido e parece ser responsável pelo afastamento da natureza mais do que a urbanização em si. Primeiro com o advento da televisão, na década de 1950, depois a era dos videogames na década de 1970 e a chegada da internet nos anos 2000. 

Desde então, as referências à natureza têm diminuído constantemente em livros de ficção, letras de músicas e histórias de filmes, enquanto as referências ao ambiente feito pelo homem não. 

No Brasil, não temos uma análise sobre isso, mas é provável que também esteja ocorrendo em algum grau, tendo em vista que os processos históricos ligados às tecnologias são semelhantes ao redor do mundo.

Apresentamos uma seleção de música que aborda a natureza e preparamos a playlist abaixo que você pode ouvir acessando aqui. 

Algumas canções contém breves comentários realizados por um dos nossos pesquisadores – Manu Lafer –  que é pediatra e compositor.

Também tem um papo muito bom, específico sobre as aves que inspiraram canções, com o nosso ornitólogo, o Luciano Lima e o Zé Edu Camargo (jornalista, compositor) no canal  Um passarinho me contou.

• Águas de março – Tom Jobim

Tom Jobim , que era ambientalista praticante, compôs essa música frequentando seu sítio em Passo Fundo, apontada por leigos e especialistas no mundo todo com justiça como uma das música mais bonitas que existem. O próprio Tom fez uma versão em inglês, escolhendo cuidadosamente palavras com origens no “anglo” e no “saxão “

• Alma de gato – Tavinho Moura

Asa Branca – Luiz Gonzaga

Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira falaram da seca, das árvores e da fauna do nordeste, com essa letra que imortalizou uma melodia tradicional e tornou-se uma identidade nacional, um patrimônio ecológico

• Azulão – Manuel Bandeira

Manuel Bandeira, sempre musicado, aqui por Villa Lobos, que como ele cantou e valorizou a natureza “biológica” dos sentidos e da vida 

• Buckskin (Manu Lafer e Bucky Pizzarelli)

É o apelido dado pelo pai do músico Bucky Pizzarelli, numa alusão ao gosto desse pela natureza, quando criança (“buck” é um bicho quase doméstico, rural e urbano). Esse é o nome do cd, não é nome de nenhuma música que ele contém 

• Forrós Pé De Serra (Manu Lafer e Germano Mathias)

É outro nome de cd, que tem uma música chamada Serra Da Coirana (Onildo Almeida, Déo Do Baião) que fala da natureza (fauna e flora) do nordeste, “irmã” de músicas mais conhecidas como Passaredo e Asa Branca

• Passaredo – Chico Buarque 

Letra de Chico Buarque, para música de Francis Hime, descobre pássaros, como uma criança ou compositor, mas é do agrado de todos, inclusive daqueles que se dedicam a avistar e fotografar pássaros 

• Passarim – Antonio Carlos Jobim

Essa é uma obra mais tardia de Tom Jobim, ou seja, quando ele, já estabelecido como fundador da bossa nova, e, no dizer de Chico Buarque, “maestro soberano”, desenvolveu vertentes literárias, ecológicas, botânicas e zoológicas próprias, cantando e encantando.

• Passarinhozinho – Leves Cantos

• Juriti – Chiquinha Gonzaga 

• Sabiá – Antonio Carlos Jobim

Essa música Tom Jobim fez com Chico Buarque, e ficou marcada pelas vaias que levou,  não pelo requinte e inserção na tradição da música brasileira e erudita, assim como na literatura 

• O Mar – Dorival Caymmi

Caymmi inventou um jeito de falar do mar, ao inventar um modo de tocar e cantar violão, tornando-se mestre de João Gilberto nessa arte, o mestre de todos. Caymmi era pintor, criava e reproduzia o mar de todas as formas  

• O Vento – Dorival Caymmi

Caymmi usou um assobio para representar o vento, que se tornou a marca registrada dessa canção e da sua musicalidade. Ao mesmo tempo, esse assobio era inspirado na sua terra (havia um assobio para “avisar “ da chegada de um certo policial repressor de candomblés) e na sua geração 

• Saracurinha Três Potes – Pena Branca e Xavantinho

• Planeta água – Guilherme Arantes

Essa música é “irmã” de Amanhã, do mesmo autor, gravada por Caetano Veloso, ao mesmo tempo brasileira (descreve igarapés) e preocupada com a humanidade (o planeta)

• No Rancho fundo – Chitaozinho e Xororó

(foi apenas uma gravação, de longe não a mais importante; quem é fã de Chitaozinho e Xororó concordará)

Essa música foi interpretada inúmeras vezes, composta por Ary Barroso até receber uma letra tardia (que não foi a primeira) de Lamartine Babo. A letra descreve uma “casa de sapé”, que ecoa num sucesso bem posterior de Hildon

• O sal da terra – Beto Guedes

• Passarinhos – Emicida

• Lilás – Djavan 

• Tá? – Mariana Aydar

• Xote ecológico – Luiz Gonzaga

• Pele de bicho – Luciano Lima e Zé Edu

• O Pato – Toquinho

Para letra de Vinicius de Moraes, hoje politicamente incorreta, cheia de rimas originais e arranjo magistral do conjunto MPB4

• Alecrim Dourado – Tradicional

• Sabiá – Luiz Gonzaga

Talvez o pássaro mais avistado e mais cantado na MPB seja o sabiá, e essa música é o símbolo dessa predileção, tendo recebido inúmeras gravações, sempre como sinônimo de natureza, afirmação de nordestinidade e brasilidade musical

• Caminho das águas – Maria Rita/Rodrigo Maranhão

• Encontro das águas – Jorge Aragão/Jorge Vercillo

• Canto da Ema – João do Vale 

(com Ayres Viana e Alventino Cavalcanti) Essa música retrata o canto e o comportamento de um pássaro com uma relação de amor que “vai se acabar”; um pássaro da MPB que teve a mesma função no início do século XX foi o urutal (“cabocla demônio mal/tou triste como urutal)

• Índio – Caetano Veloso

Essa música foi composta, como tantos sucessos de Caetano, nos preparativos da excursão com os Doces Bárbaros (Caetano, Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia)