Mas se eu não conseguir estar com a natureza, posso ver imagens?

Por Roberta Savieto

Seja por restrições impostas pela pandemia, seja por impossibilidade de organização ou por não ocupar os primeiros lugares na lista de prioridades, manter momentos de presença e conexão com natureza parecem estar mais distantes da realidade de muitas pessoas.

Apesar dos benefícios já evidenciados pela ciência, experimentados empiricamente e (por que não?) ilustrados neste site, a vida real ainda nos coloca impedimentos práticos de acesso à natureza. Assim, permanece a pergunta: se eu não conseguir estar com a natureza, devo desistir e me “resignar” à condição de não alcançar tanta saúde e tanto bem-estar?

A resposta é: NÃO! (Ufa, vamos comemorar!).

O artigo escolhido para responder a essa pergunta desenvolveu e validou um banco de imagens de natureza capazes de promover emoções positivas, chamado e-NatPOEM (e-Nature Positive Emotions Photography Database/ Banco de Imagens de Emoções Positivas e-Natureza), com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Sabendo que a urbanização nos distancia cada vez mais de ambientes naturais e, consequentemente, dos potenciais benefícios com seu contato, a área da saúde acabou ficando pra trás no avanço desse conhecimento, quando comparada às ciências sociais e ambientais. Ainda, a minoria dos estudos, são originários de países da América do Sul e da África, que, contraditoriamente, são recheados de maior biodiversidade.

Assim, ficou evidente a necessidade de se verificar a contribuição de imagens de natureza na melhora das condições de saúde e bem-estar para quem não consegue (exemplos citados no primeiro parágrafo) e, principalmente, pra quem não pode estar com a natureza, como no caso de pessoas internadas em hospitais.

Foram validadas 403 imagens capazes de promover emoções positivas. Cabe ressaltar aqui o referencial para tais emoções. Positivas, são consideradas todas aquelas agradáveis, que percebem a situação como benéfica em um curto período de tempo, tanto as associadas a extrema tranquilidade, quanto as associadas a maiores níveis de excitação.

O ponto alto da pesquisa em questão foi o cuidado com a escolha das imagens e o processo de validação para que as 403 fossem escolhidas e classificadas, dentre o total de 700, buscando responder a algumas inquietações: Qual imagem de natureza, num conjunto de outras, é capaz de promover algum benefício? Ver a foto de um pássaro ou de uma flor tem o mesmo efeito? Numa paisagem, qual emoção é disparada por cada elemento natural?

 

Para tanto, dois fotógrafos independentes selecionaram as 403 imagens, do total de 700, baseados em três critérios: técnica, informação e criatividade, considerando a experiência estética que uma foto é capaz de promover.

Depois, foram divididas em nove categorias, de acordo com seu conteúdo: Aves Claras (50 fotos), Aves Coloridas (50 fotos), Céu (50 fotos), Flores (50 fotos), Mar (50 fotos), Insetos (50 fotos), Água (50 fotos), Paisagem (27 fotos) e Floresta/Bosque (26 fotos) e disponibilizadas numa plataforma digital (desenvolvida especialmente para esse estudo) para que pudessem ser avaliadas quanto ao nível de alerta, de muito tranquilo a muito alerta, e quanto ao nível de valência, que variava de muito triste a muito alegre. Os participantes também tiveram um campo aberto para descrever, com uma palavra, o que a imagem transmitia.

 

Para avaliação dos participantes, as fotos da pesquisa eram apresentadas junto com outras chamadas “de controle”, que consistiam em 28 fotos comprovadamente capazes de despertar alto nível de alerta e baixo nível de valência, como cobras, depósito de lixo na natureza e flores mortas.

Quando comparadas às essas imagens de controle, todas as categorias de conteúdo da pesquisa tiveram baixo nível de alerta e alto nível de valência.

As que atingiram significativamente maior valência foram as de Mar, Aves Coloridas e Flores e as classificadas significativamente como mais relaxantes (menor nível de alerta) foram as da categoria Céu, Mar e Flores.

O resultado obtido, ainda, foi capaz de dividir as imagens qualitativamente em cinco categorias: Beleza (134 fotos), Paz/Tranquilidade (161 fotos), Estados Positivos (78 fotos), Estados negativos (39 imagens) e Miscelânea (67 fotos), sendo que algumas delas foram atribuídas a duas categorias.

Mas o que tudo isso quer dizer? Bem, algumas coisas…

Na base de todas as fotos desse estudo, estava a beleza, que tem relação direta com emoções prazerosas. Ou seja, a beleza contida nas imagens naturais parecem estar nas origens das sensações de bem-estar.

Mesmo com exposições indiretas (por meio de fotos e não diretamente presente num ambiente de natureza) são disparadas emoções positivas e sensação de renovação.

Logo, nossa sugestão, para quem se encaixa nas limitações responsáveis pelo impedimento de estar com a natureza é: aprecie as imagens (sem moderação!) e aproveite o (seu) @umtempocomenatureza.

Referência:

Dal Fabbro, D., Catissi, G., Borba, G. et al. e-Nature Positive Emotions Photography Database (e-NatPOEM): affectively rated nature images promoting positive emotions. Sci Rep 11, 11696 (2021). https://doi.org/10.1038/s41598-021-91013-9